quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Apesar das “vidas secas”, sempre há de vingar uma alma forte.

Paula Cristina Nunes Ferreira (28) nasceu na cidade de São José do Egito, sertão de Pernambuco. Nunca conheceu os pais biológicos, que a deram para uma família quando ainda era recém nascida.
Aos 3 anos, essa mesma família a devolveu à vó materna, com quem ainda mantinha algum contato. Sem condições de criá-la, sua vó a deu novamente, desta vez para um vendedor de joias que já tinha outras crianças adotadas.
A estada com a segunda família durou apenas 6 meses. Por razões não mencionadas, mas que se pode imaginar, o tal vendedor a entregou para uma viúva solitária cujo único filho havia se casado e mudado para outra cidade.  Sem vínculos familiares, Paula conta que conheceu um dos irmãos quando tinha 18 anos, mas que não mantiveram contato. Eram como estranhos um para o outro.
Dos 4 aos 15 anos, foi criada por essa mulher, que chama de “mãe”, embora o tratamento recebido dela nunca tenha sido de filha, mas sim de serviçal. Ao completar 15 anos, Paula foi expulsa de casa por ela. O motivo? A MÁdrasta achou que ela não era mais virgem (Paula conta que estava namorando um rapaz há exatos 14 dias e mal tinham dado uns selinhos quando tudo aconteceu…). Foi a vez de receber abrigo da família do rapaz, com quem passaria 5 anos de sua vida.
Aos 20 anos, já com o segundo namorido, mudou-se para Brasília, onde permaneceu por 6 meses. O retorno repentino a Pernambuco se deu por um pedido da mãe adotiva que estava muito doente e solicitou a presença de Paula. A senhora de quem eu nem quis saber o nome ainda vive e soma 82 anos.
Após 2 anos e meio de relacionamento com o segundo companheiro, veio outro rompimento. Paula comenta que sempre atraiu um padrão de homens muito semelhante, com tendência ao alcoolismo, à farra, infidelidade, ciúme e agressividade. Pouca vocação para o trabalho também estava na lista. De 2009 a 2012, decidiu dar um tempo e focar em outras áreas da vida, como os estudos e o trabalho.
Paula estudou até o segundo grau, sempre sozinha, sem que ninguém precisasse lhe cobrar ou orientar. A profissão de cabeleireira surgiu na adolescência por circunstâncias da época, mas acabou se tornando uma grande paixão que a acompanha até hoje. O canto também figura no ranking das paixões. Por 10 anos foi vocalista de duas bandas de forró, a “Prazeres do Forró” e a “Acorde Matuto”, com direito a disco, vídeo no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=Uet9u0hPmog) e apresentações para mais de 25 mil pessoas.
Terminado o sabático afetivo, Paula conheceu o terceiro namorido, com quem vive há 1 ano e com quem veio para São Paulo em 2012. Recentemente decidiu prestar concurso para a Polícia Militar, sua nova área de interesse. Já passou na primeira fase e agora aguarda pela segunda fase que acontece em dezembro.
Na relação dos grandes sonhos estão a casa própria, um carro, fazer faculdade de Direito e se tornar delegada. Tão cedo não pensa em ter filhos ou casar com formalidades. Diz ela: - pode até acontecer, mas não é a meta. Pudera, depois de lutar contra o abandono, a rejeição e a injustiça, é preciso amar a si mesma, se refazer com calma, antes de fazer “novas vidas”.
Sem saber qual será sua decisão lá na frente, sigo torcendo por Paula, mulher valente que, como tantas outras, ratifica algumas de minhas certezas nesta vida: dificuldades não justificam mau-caratismo; e o Universo sempre há de dar força àqueles de bom coração, com vontade de seguir em frente e ser feliz.

Um comentário:

  1. mulher guerreira essa e a MULHER NORDESTINA forte e valente .

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