domingo, 15 de fevereiro de 2015

Com homenagem a Suassuna, Padre Miguel é forte na briga pelo Grupo Especial

Após a maratona de duas noites, com a apresentação de 15 escolas de samba da Série A (equivalente ao Grupo de Acesso) do carnaval carioca, um grupo de agremiações briga pela única vaga no Grupo Especial para 2016. Unidos de Padre Miguel, Acadêmicos do Cubango, Império da Tijuca, Paraíso do Tuiuti e Império Serrano fizeram bons desfiles e devem disputar, décimo a décimo, o título de campeã.

Se o resultado fosse determinado única e exclusivamente pela beleza de alegorias e fantasias, a Unidos de Padre Miguel sairia da Sapucaí consagrada. Homenageando a obra de Ariano Suassuna, a vizinha de bairro da Mocidade Independente fez um desfile que impactou pela grandiosidade, beleza e criatividade. Porém, falhas na evolução podem tirar décimos preciosos.

Os Acadêmicos do Cubango, de Niterói, trouxe um enredo de temática africana para a avenida e encantou o público com um belo trabalho de seu carnavalesco Jaime Cesário. Abusando das cores cítricas, o Cubango também teve como destaque a ótima bateria, comandada por Mestre Maurão. O samba, que foi bem cantado por seus componentes, não contagiou as arquibancadas.

Rebaixada injustamente no Carnaval passado, a Império da Tijuca apresentou um desfile belíssimo, com uma evolução empolgada de seus componentes. Com um enredo sobre o orixá Oxun, trouxe uma bateria muito bem ensaiada e um dos melhores sambas do desfile. O Paraíso do Tuiuti relembrou as aventuras de Hans Staden, em um brilhante trabalho do carnavalesco Jack Vasconcelos e também se credenciou na disputa do título. O Império Serrano, nove vezes campeão do Grupo Especial e que está fora do desfile principal desde 2009, surpreendeu com um desfile de visual caprichado, muito samba no pé e um belíssimo samba, assinado por Arlindo Cruz.

Dentre as decepções, está a Estácio de Sá. A escola do bairro onde o samba carioca nasceu trouxe um enredo sobre os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, mas fraquejou em vários quesitos, especialmente os visuais. Alegorias e fantasias passaram com falhas de acabamento e de concepção. A demora do último carro em entrar na avenida fez a escola ficar parada por alguns minutos e prejudicou a evolução. Quem também não correspondeu à expectativa gerada foi a Renascer de Jacarepaguá. Com um dos melhores sambas do ano, assinado por Teresa Cristina, Moacyr Luz e Cláudio Russo, fez um desfile morno e não disputará vaga entre as grandes.

Escolas que vinham fazendo carnavais apenas para cumprir tabela se reabilitaram em 2015. A Caprichosos de Pilares reencontrou-se com sua verve satírica e bem humorada com um elogiado trabalho do jovem carnavalesco Leandro Vieira e, certamente, obterá uma boa classificação. A Acadêmicos de Santa Cruz, homenageando o centenário de Grande Otelo, apresentou um desfile leve, colorido e animado.

Na parte inferior da tabela deverão ficar União do Parque Curicica, Alegria da Zona Sul, Unidos de Bangu e Em Cima da Hora – esta última desfilou com várias alas sem fantasias e será rebaixada em último lugar para a Série B. As outras três escolas apresentaram vários problemas em seus desfiles e brigarão para escapar da degola – duas conseguirão se salvar. As dificuldades destas escolas evidenciam que o novo modelo da Segunda Divisão do samba carioca, surgido em 2013 para facilitar a transmissão do desfile pela TV Globo para o estado do Rio, ainda não conseguiu dar um padrão de equilíbrio estético para as escolas. As escolas de menor investimento desfilam em um nível muito abaixo das favoritas.

Sem causar grande impacto, ainda desfilaram a Unidos do Porto da Pedra e a Inocentes de Belford Roxo. As duas escolas, com passagens recentes pelo Grupo Especial, deverão ficar na zona intermediária da classificação. A apuração da Série A do carnaval carioca será na quarta-feira de cinzas, logo após a apuração do Grupo Especial. 

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